A sustentabilidade não pode passar de moda

Umas Birkenstock, oferecidas no final do secundário. Umas Doc Martens, compradas a primeira vez que fui a Londres. Uns Rayban, prenda de final de licenciatura.

Numa realidade onde a moda e os gostos mudam de estação em estação, é urgente pensarmos nas peças que estão connosco há mais tempo. É que esta é a verdadeira sustentabilidade; não são os algodões reciclados, os linhos orgânicos ou as gangas fair trade. Sustentabilidade não é comprar esta ou aquela marca. Sustentabilidade é, sim, e peço desculpa pelo que vem a seguir, ignorar a moda (ela acaba por voltar, como sabemos). Até porque a sustentabilidade não pode mesmo ser só mais uma moda.

Por muito que doemos e destralhemos, o problema continua lá. Sobretudo, se pensarmos que o mesmo Bangladesh que nos produz a roupa, agora está a receber roupa “doada” que acaba num aterro de lixo. A solução só pode ser então comprarmos muito MENOS, com mais QUALIDADE e de MENOS em MENOS tempo. Quantos camisolas é que precisamos? E quantas calças? Provavelmente metade das que temos no armário.

Se o futuro do nosso planeta interessa (e pela geração que cá ficará, tem que interessar), temos mesmo de esquecer a Zara e a HM e banir tudo o que vier de um modelo fast. Não podemos continuar a comprar o que no ano seguinte “já não se usa” e temos de continuar usar a que já temos, durante mais anos. Compremos apenas o que faz realmente falta e procuremos o básico e intemporal. E aqui sim, se tivermos capacidade financeira, ajuda sempre escolher o orgânico, o vegan e o reciclado. Fica meio seca assim? Pensemos nos fenómenos climáticos extremos, que cada vez são mais implacáveis.

Vamos a um exercício prático: temos umas calças pretas velhas que já não servem e precisamos de outras, o que fazemos? Primeiro, pensemos nas marcas de calças que nos duraram mais. Depois, o ideal é antes de comprar tentar adoptar: ver se nenhuma amiga tem umas que não queira, dar uma pesquisada no olx, procurar mais sites de revenda ou ir até uma feira da Ladra ou loja de segunda mão. Nenhum destas resultou? Pronto, então lá teremos que comprar novas, mas compremos aquela marca que nos durou mais tempo e num modelo mais simples que garantidamente usemos, pelo menos, nos próximos cinco anos. E quem diz as calças pretas, diz qualquer peça de roupa.

Ajuda espreitar os roupeiros daqueles que adoptaram um estilo de vida minimalista ou aderiram ao fenómeno Tiny Homes; camisolas brancas e pretas, vestidos de uma só cor, calças de ganga, calças pretas e casacos básicos. Quem aderiu garante que esta simplicidade não só elimina o sentimento “nada para vestir” e a necessidade constante de comprar, como ainda nos faz sentir melhor connosco próprios por estarmos a contribuir para um mundo melhor. Resumidamente, muito menos e durante muito mais tempo.

Num estudo acerca de sustentabilidade, os entendidos na matéria chegaram à conclusão que cada pessoa como nós (privilegiada, pois) deveria comprar apenas quatro artigos de moda por ano – e aqui incluem-se sapatos e acessórios também. No meu caso, umas jardineiras, dois vestidos e um par de ténis depois, fecho a loja. Até 2021!

No ano passado as minhas birkenstock rasgaram-se ao fim de 17 anos, comprei outras desta vez o modelo vegan (já agora). Há dois anos a sola de 10 anos das minhas doc abriu e nenhum sapateiro as conseguiu colar, voltei a comprar umas (e também o modelo vegan). Os Rayban felizmente estão a segurar-me o cabelo, enquanto escrevo este texto numa esplanada.

 

Rita Bernardo
Copywriter, 34 anos.
Empenhada em fazer do nosso mundo a better place